sexta-feira, 29 de julho de 2011

DOIS


Areia um

Mareia

Grão

Semeia com paciência

Um som assim... cheio de reticências

...hum...há uns sem número de sonhos

E um refrão

Que é feito pra ser goteira

Na sua casa mal feita,

Sapé, barro no chão, quintal de areia e mar.

Vento que faz dos grãos de areia

uma chuva canção: pra solapar seus alicerces,

Descamar suas paredes e desnudar seu barro,

numa paciente inundação.

E o som,

Areia um

Mareia

Grão

Semeará com paciência um sim assim...

...corrupção...como um bolero de Ravel,

um tango e seu bandolion...

contínuo pra ser corrupto; canto.

.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

MOSAICO

Eu não tenho cicatrizes
Das tantas dores de amor;
Tenho mosaicos!
Feitos por minha musa
Em arenito, conchas e sal.
Pedacinhos que foram ajeitados
No meu eu desalinhado
Por quem pacientemente
Espera , espia, inspira.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

PAIXÃO POSTAL



Irritante capricho,
Brincadeira de onda.
Que é linda se (só) fico olhando.
Covarde, se me apanha.

Capricho de paixão covarde,
Com culpa & Cia.

Imaginei que eu pudesse
Imaginá-la luz fria.
Tramei, tracei planos na tarde
Pra ver se à noite a esquecia.

Caprico de paixão covarde,
Distorce as imagens que cria.

Eu juro que a vi na areia
A caminhar ao meu lado.
Ela ia contando seus trezentos e sessenta e cinco dias
E reservava um tempinho pra vasculhar minhas sinas.

Capricho de paixão covarde,
Que ela fazia que ouvia.

Olhar cruel,
Voz manhosa,
E naquele dia chovia.
E era ela a me falar da chuva,
De um arco-iris que vira
Do mar morno em que se banha,
Onde brinca, fantasia...

Fantasias na minha cabeça zonza
De confundir suas mentiras.
Promessas de frases roucas
Cheguei a pensar que ouvira
Saindo de sua boca
Paixão cruel, arredia

Capricho de paixão covarde
Por que caminhos me trilha?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A faxina do altar

Tinha em casa um altar ecumênico. De Nossa Senhora de Aparecida à Preto Velho Jurubá, Avó Maria Conga, São Jorge e seu dragão, Santo Antônio, Santo Expedito em diversas versões e muitos outros. São Benedito não estava no altar, ficava na cozinha aguardando seu cafezinho matinal. Lá no altar sempre uma vela de sete dias acesa em prece. Curioso foi observar o comportamento de quem trabalhou na limpeza da casa diante do altar:
A moça crente passava ao largo e meio que se benzia. Jamais passou um pano de pó naquele móvel. Acho que sequer a vassoura chegava perto. Quantos rostos naquele altar! Que confusão?! Que heresia ignorante dos que crêem em imagens diziam seus gestos enfáticos.
Já a senhora, mineira, negra, que a despeito de ser católica praticante não se furtava ao poder dos pretos velhos, vez que até em sacis - o coisa ruim segundo ela – acreditava, e cria com veemência, já ela, diversamente da moça crente, acarinhava o altar. Limpava até a vela que reluzia com mais brilho depois que ela passava por lá com seus tantos apetrechos de limpeza. Agente tinha impressão, olhando de longe, que ela limpava e orava ao mesmo tempo. Era uma espécie de momento de fé num dia de faxina. Saia dali e as entidades todas estavam perfiladas, em uma ordem que ouso dizer era hierárquica, com Nossa Senhora de Aparecida bem à frente de todos. Não por outra razão senão porque era dela que vinha seu nome, sua força, sua graça. Dona Cida, Cidoca para os íntimos, era Aparecida, como tantas outras que pisam o solo desta terra brasileira. Devota mulher guerreira.
Essas memórias me ocorreram após ouvir a história de amiga, que me contou que seu filho, recém ingresso no mundo adulto, está por decidir religião irá escolher como sua. Muito estudioso, inteligente, pais intelectuais, o rapaz sai com uma que me remeteu a estas histórias de altar. Disse ele que se tiver que escolher religião preferirá a católica, pois que tem muito mais gente pra conversar do que as outras que não tem santos múltiplos com os quais compartilhar suas idéias matizadas pelo colorido dos sonhos de um jovem com uma mente brilhante.

quarta-feira, 28 de abril de 2010




Amor catavento

...vento de sopro morno


brinquedo com os contornos


dos dedos que o percorrem lentos.


Dobrou eu em quatro


como um papel de confeito


sobrou talento


suei um parto.


Dona de mim, cata e me lança


feito confeti de seu carnaval.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009


Sou pequenino,

miudinho assim.

Sou um simples pé de capim.

Beirando a estrada

eu não sou nada.

Chuva e poeira caem sobre mim.

Humildemente vivo,

Contente vou sendo assim:

um simples pé de capim.